“Ela é uma inspiração para a comunidade” - superando a marginalização através do negócio

Edma Fernando stands on her freshly planted sesame field in Moma distric, Nampula province, northern Mozambique. Photo: Gender Links/Felismina Dengo
15 outubro 2021

MAPUTO, Moçambique - Edma Fernando, de 25 anos, é uma pessoa com albinismo, mãe solteira de dois filhos e uma das agricultoras melhor sucedidas na sua zona. No entanto, nem sempre foi assim.

Vinda de uma família humilde, que vivia à base de agricultura de subsistência, Edma enfrentou formas de marginalização múltiplas enquanto crescia, devido à sua condição genética e ao isolamento geográfico. Quando o seu parceiro a abandonou, deixando-a sozinha com dois filhos para criar, Edma não tinha um meio de subsistência regular e pediu ajuda à família. Felizmente, os seus pais apoiaram-na prontamente, dando-lhe casa e alimentação.

“Apesar de todos os desafios que enfrentou, hoje Edma é uma mulher independente e uma inspiração para a comunidade” - Felismina Dengo, coordenadora do programa de empoderamento económico da Gender Links, distrito de Moma

“Apesar de todos os desafios que enfrentou, hoje Edma é uma mulher independente e uma inspiração para a sua comunidade” - disse Felismina Dengo, que coordena o programa de empoderamento económico da Gender Links no distrito costeiro de Moma, província de Nampula, norte de Moçambique.

Da agricultura de subsistência à agricultura comercial

Em 2020, Edma foi convidada pela Gender Links, uma organização parceira da Iniciativa Spotlight, para participar numa formação em empreendedorismo, como parte de um grupo de vinte mulheres vulneráveis ​​no distrito.

Durante a formação, a Edma aprendeu a gerir um pequeno negócio, a ter acesso aos mercados e a fazer poupança. Também recebeu um valor monetário da Gender Links, que  investiu na machamba da sua família. Determinada a passar da agricultura de subsistência para agricultura comercial, comprou sementes de gergelim, trabalhou arduamente e, após um ano, juntamente com a sua família, Edma hoje cultiva doze hectares de gergelim.

“Só posso ir à machamba pela manhã cedo, antes de o sol aquecer” - diz Edma.

Ela agora vende o gergelim numa feira local, onde grossistas de toda a província vêm comprar o seu produto - uma cultura de alto valor comercial no país.

Com o lucro das vendas, Edma conseguiu comprar uma motorizada que lhe permite chegar aos mercados mais depressa e com maior frequência. Com o rendimento adicional, Edma e a sua família também diversificaram as suas culturas, melhorando a nutrição de toda a família.

“Agora posso criar os meus filhos sozinha” – diz Edma.


As mulheres rurais representam mais de 34 por cento da população de Moçambique (Censo Populacional de 2017). Na foto, mulheres cultivam milho na província de Gaza, Moçambique. Foto: Philip Hatcher-Moore/UN Mozambique

Superando a marginalização e a violência através do empoderamento económico

Edma é uma entre mais de nove milhões de mulheres rurais em Moçambique, de acordo com o Censo Populacional de 2017. Estas mulheres representam mais de 34 por cento da população de Moçambique e a maioria trabalha na agricultura - a principal fonte de rendimento para mais de 70 por cento dos moçambicanos.

Essas mulheres desempenham um papel crucial no cultivo de alimentos e na geração de renda para as suas famílias. No entanto, a maioria tem pouco acesso ou controle sobre os recursos produtivos, devido a uma estrutura social patriarcal profundamente arraigada, onde a violência baseada no género encontra as suas raízes.

Para apoiar mulheres e raparigas vulneráveis, incluindo sobreviventes de violência e suas famílias, os parceiros da Iniciativa Spotlight em Moçambique incentivaram mais de 1,800 mulheres a participar em actividades de empoderamento económico desde 2020 - superando a meta projectada de apoiar 1,500 mulheres ao longo dos quatro anos de duração do programa.

“Eu encorajo todas as mulheres a permanecerem firmes nos seus próprios projectos, assim como eu fui encorajada a permanecer firme no meu” - Edma Fernando, agricultora

Entre elas, estão sobreviventes de violência, de uniões prematuras e de fístula, mulheres que vivem com HIV, bem como mulheres com deficiência e albinismo - algumas das mais marginalizadas do país.

Ao aceder a oportunidades económicas e ao aprender a gerir pequenos negócios, estas mulheres estão a encontrar alternativas e meios de subsistência que apoiam a sua recuperação a longo prazo, muitas vezes superando a dependência em parceiros abusivos.

“Eu encorajo todas as mulheres a permanecerem firmes nos seus próprios projectos, assim como eu fui encorajada a permanecer firme no meu” – disse Edma.

Por Leonor Costa Neves, com reportagem por Laura Lambo