Como os homens estão redefinindo a masculinidade em Moçambique
Nampula, Moçambique – Guidion Gulamo, de 25 anos, estava satisfeito com a sua carreira como modelo e dançarino na Província de Nampula, no norte de Moçambique. Ele tinha uma boa reputação e era popular, especialmente entre as mulheres. Mas sua percepção de si mesmo mudou quando participou numa formação para homens sobre a prevenção da violência sexual e baseada no género. Aí, Gulamo percebeu que o seu próprio comportamento poderia estar a prejudicar as raparigas.
“Eu costumava envolver-me com raparigas menores de 18 anos”, diz Gulamo. “Depois da formação, entendi que estava errado e que poderia estar a prejudicar as suas vidas”.
Ele entendeu que, embora o sexo fosse uma experiência inconsequente para ele e para muitos dos seus amigos do sexo masculino, tal poderia ter um impacto muito diferente na vida de uma jovem rapariga. Se ela engravidasse, isso poderia levá-la a abandonar a escola. Ele também entendeu que, por vezes, as raparigas consentem em fazer sexo mesmo que não o queiram, porque se sentem desconfortáveis em dizer que não ou devido à pressão cultural para se sujeitarem à vontade dos homens.
“Como homens, devemos mudar as nossas mentes e as nossas acções”
Desde a formação, Gulamo tem educado a sua própria comunidade e colegas. Ele explica que os homens e as mulheres são iguais e que forçar uma rapariga a fazer sexo ou a casar-se contra a sua vontade não é apenas prejudicial para o seu bem-estar: é contra a lei. Esta é uma mensagem importante em Moçambique, onde 48% das raparigas casam antes dos 18 anos.
“Hoje digo aos meus amigos que eles não devem envolver-se com raparigas menores de 18 anos. Eles sabem que é errado, mas o que não sabiam é que agora podem ir para a cadeia”, diz Gulamo.
Este seu novo conhecimento teve um grande impacto na sua própria família. Quando o seu pai anunciou que a irmã de Gulamo, de 14 anos, estava prestes a casar-se, Gulamo opôs-se veementemente à decisão. Explicou ao pai que este casamento era contra a lei e que a vida da sua irmã seria prejudicada por esta união prematura. O seu pai ouviu-o, cancelou o casamento e permitiu que a sua filha continuasse os estudos.
Desde então, Gulamo tem aconselhado outras famílias e recentemente encaminhou um caso à polícia, que resultou na condenação de um homem por violência sexual contra uma menor.
Ampliando a masculinidade positiva
Gulamo não é o único homem na sua comunidade que defende a mudança. Ele é um dos 25 homens que foram treinados pela organização Ophenta, apoiada pela Iniciativa Spotlight, para se tornarem activistas pelos direitos das mulheres. Os participantes formaram um grupo de jovens do sexo masculino e agora trabalham na comunidade para aumentar a conscientização sobre a violência sexual e informar os moradores locais sobre a lei.
“Trabalhamos juntos nas comunidades. Vamos aos mercados e conversamos com as pessoas, uma a uma”, diz também o activista Júlio Jorge, de 20 anos.
Em 2019, mais de 16.000 homens em Moçambique foram sensibilizados sobre os direitos das mulheres e a violência sexual e baseada no género, no âmbito da Iniciativa Spotlight. Homens como Gulamo são parceiros-chave na eliminação da violência e dão fortes exemplos de masculinidade positiva aos seus pares. Como figuras influentes nas suas comunidades, o seu alcance estende-se muito além do seu próprio círculo de família e amigos, ajudando a criar mudanças duradouras em toda a sociedade.
“Como homens, devemos mudar as nossas mentes e as nossas acções”, diz Gulamo.
Por Leonor Costa Neves